O regresso do livro mais polémico de sempre
Chamem-lhe (d)efeito de formação mas
tenho um fascínio por tudo o que está relacionado com a 2ª Guerra Mundial, em
todas as suas vertentes. Isto explica o facto de me ter deslumbrado com a
viagem que fizemos (há dois anos) à Normandia; o facto de devorar todos os documentários,
filmes e livros relacionados com a época; o facto de querer saber tudo sobre as
pessoas envolvidas no evento. Incluindo os monstros.
Quando, em janeiro do ano
passado, caducaram os direitos de autor sobre o livro de Adolf Hitler, “Mein Kampf”, foi posta à venda uma nova
edição do mesmo. E a polémica instalou-se.
O medo da influência que o
manuscrito pudesse ter, levantou o problema do ressurgimento de ideologias
nazis e esta ideia agravou-se quando, após a época natalícia, se constatou que
o livro vendeu milhares de exemplares…
Nem de propósito, o Bruno
Nogueira fez uma crónica no seu programa matinal da Antena 3, Mata-bicho, que me deixou um pouco chocada. No fundo, ele generalizou este aumento das vendas do livro, na Alemanha, a
uma espécie de saudosismo hitleriano. No final da crónica, confesso, que eu própria
me senti culpada por querer comprar o “Mein
Kampf”. Como se, de repente, isso fosse sinónimo de ser simpatizante da
causa de um homem que, para mim, personifica a crueldade no seu expoente
máximo.
Hoje, felizmente, o jornal Público
publicou um artigo assinado Exclusivo PÚBLICO/Washington Post que suporta a (minha)
ideia de que o livro está a ser comprado por “(…)consumidores tradicionais dos
livros de política e de História (…)”.
Provavelmente são pessoas que,
tal como eu, querem ler o que Hitler ditou ao seu secretário enquanto esteve
preso apenas pelo interesse histórico do documento. Nada mais.
No outro dia, ouvi alguém dizer (qualquer
coisa do género) que é muito mais perigoso não conhecer a mente dos criminosos.
Concordo. A minha curiosidade (mórbida, talvez…) passa por aqui: tentar
entender como funciona (ou não) o cérebro de um homem em nome do qual se cometeram
tamanhas atrocidades.
O artigo do Público continua citando
“o debate acerca da visão do mundo de Hitler e da sua abordagem à propaganda
permitiu olhar para as causas e para as consequências das ideologias
totalitárias, numa altura em que as visões autoritárias e os slogans de direita
estão a ganhar terreno”. E ainda: “os
simpatizantes de Hitler que possam estar interessados no livro terão de
procurar noutro lado aquilo que querem encontrar”.
Portanto, esta reedição de um dos
livros mais polémicos de sempre pode (e deve) refutar os ideais de um
dos mais odiados líderes políticos do mundo e, assim, alertar as consciências evitando
que esta abominável época histórica se repita.
Bertrand |
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