Perfeito, perfeito...não é. Mas é real.

O Natal é uma ocasião especial que junta família, amigos e afins, todos em comunhão com o espirito festivo da época.
É que se pretende.
Amor, felicidade, partilha, compreensão e tolerância, à pressão, durante uma noite e um dia.
E é por isso que o Natal pode ser complicado.
Vejamos.
À mesa sentamos pessoas que, provavelmente, só se vêm uma vez no ano. Esses “convivas de ocasião”devem ultrapassar diferenças de gostos, feitios, apetites, disposições, opiniões e manias e conviver harmoniosamente.
Juntamos cadeiras e bancos de várias nações, ao bom estilo "prático chic". Se não há louça igual, improvisa-se. Os guardanapos, dourados, são de papel. Os copos podiam ser de vinho mas os de água também servem (até levam mais). Os tachos vão para a mesa porque ninguém é de cerimónia e, se for, paciência. A broa circula livremente porque o cestinho ficou esquecido na banca da cozinha e o azeite pingou na toalha porque não houve tempo para o colocar no doseador. O lema é: vamos lá comer, que o bacalhau é bom quentinho.
Lá se vai a ordem e uniformidade de uma mesa bem posta que, nos nossos planos, até tinha velas em castiçais e um grande centro de mesa. 
Pois não houve tempo e evitou-se um incendio.
Nesta ocasião, qualquer casa, por muito grande que seja, parece um T0 kitchenette “open space” e, por isso, é de bom-tom ignorar a confusão na cozinha, na sala, no wc, no corredor, na varanda ou em qualquer outra divisão da mesma. É aconselhavel treinar para entrar num estado zen.
É preciso controlar também a vontade de esganar alguém ou fugir e voltar no próximo ano quando, pela milionésima vez, a televisão transmite a “Música no Coração" e toda a gente quer ver.
Entretanto, bacalhau comido, atacam-se as rabanadas, a aletria e o arroz doce, bebe-se um porto e faz-se qualquer coisa para entreter as crianças e manter os adultos acordados até chegar o Pai Natal.
Este nunca faz juz ao velhote simpático de barbas branquinhas e impecavel no seu fatinho vermelho. Geralmente é uma tia, de almofada na barriga, casaco vermelho mal amanhado da loja dos chineses, peruca branca a tapar os olhos, e a boca escondida por um emaranhado de algodão, que teima em desfazer-se a cada "Oh Oh Oh".
E a noite passa com o cão escondido debaixo do sofá.
O dia 25 chega com um almoço tardio, que dura sempre até à noite.
Repete-se a mesa, a confusão e a emoção mas, pelo menos, já não vemos a Irmã Maria a vibrar com as colinas que estão vivas. O filme muda mas seja o “Sozinho em casa”, “Os fantasmas de Scrooge” ou “O Grinch” certo é que toda a gente vai querer ver outra vez.
Se o dia estiver bom a digestão é feita ao ar livre, se estiver mau, dá-se umas voltas à mesa.
Mais uma rabanada, mais um sonho, mais um porto para a desgraça. Canjinha para aconchegar o estomago ou um pratinho de “farrapo velho” para o caminho. Pão-de-ló com queijo da serra para o café. Chá para os enfartados.
Quando acaba estamos estafados.
Dizemos “até para o ano” enquanto atafulhamos os restos em tupperwares para distribuir pelos convivas, que nunca querem levar nada mas lá vão abrindo os sacos.
No dia seguinte sentimos saudades das horas em que estivemos todos juntos e quase (quase) desejamos que seja outra vez 24.
Portanto, o Natal pode ser bem diferente do Natal perfeito de alguns anúncios mas não significa que seja pior. É mais real. Mais humano. É este Natal que nos dá as histórias para o resto do ano.
"O Natal é complicado mas é assim que gostamos dele” lá em casa.
Assim diz o  anúncio do IKEA que até combina lindamente com a "Desconsoada" da Antena3.


 
 IKEA
 
 "Desconsoada" - Antena3

Comentários

  1. Sem tirar nem pôr... Adorei priminha ;) parece que estava a ver os nossos Natais de há uns anos atrás! K saudades... bjnhsssss e Feliz Natal (cafézinho+ rabanada se fôr ao Porto, eu ligo)

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