Conta-me tudo (não me escondas nada)

Nestes últimos tempos ouvimos falar imenso em sair do país e foram muitos os que decidiram cumprir a tradição de um povo que sempre andou por outras terras.
Eu, que adoro e preciso de um "porto seguro" e tenho dificuldade em dizer adeus (nem que seja por causa de uns dias de férias), respeito e admiro os que são fortes o suficiente para ir embora. Mesmo que seja com o intuíto de voltar.
Compreendo os motivos, que podem ser variados (emprego, novas oportunidades, uma vida melhor), mas acredito que a decisão não seja fácil. Imagino que aquele último  momento no aeroporto ou na estação seja uma mistura de tristeza e excitação.
Em Maio de 1940, com o Reino Unido mergulhado nas agruras da guerra, Churchill, dirigindo-se aos Comuns, declarou: "Só tenho para oferecer sangue, trabalho árduo, lágrimas e suor."

Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/mundo/detalhe/sangue-suor-e-lagrimas.html
Houve uma vez um homem que disse (num outro contexto) "Só tenho para oferecer sangue, trabalho árduo, lágrimas e suor". Será este o lema de muitos dos "tugas" que estão espalhados pelo mundo? 
Uma confessou-se assim à Maria Fraldiqueira:

1 - Pela oportunidade ou  aventura?

"Tuga": Posso dizer que ambos os motivos fazem parte da decisão. A partir do momento em que agarrei a oportunidade, lancei-me numa aventura em todos os sentidos. Desde ir ao encontro de uma cultura diferente (que passa pela língua, clima e gastronomia) até à aventura de deixar para "trás" a família, amigos e todas as rotinas.

2 - É um sonho ou pesadelo ?

"Tuga": A mala de viagem vai carregada de sonhos, quando partimos, mas também de receios pelo que vamos encontrar no país que escolhemos (ou que nos escolhe). Os primeiros tempos são cruciais; sentimo-nos confusos com tanta mudança a acontecer ao mesmo tempo, questionamo-nos muito acerca da decisão e tentamos ser fortes pois o passo mais difícil (o de entrar no avião e seguir a viagem efetivamente) foi tomado. Há que ter algum apoio no país de destino (pois torna tudo tão mais fácil) alguma sorte e muito espírito de adaptação para a "coisa" e saber que nem tudo vai ser sempre como sonhamos ou idealizamos.
No meu caso, tudo correu bem, estou num país que acolhe bem os emigrantes, pois também eles são um povo de cuja história faz parte a emigração. Não passei pelo que a maior parte dos emigrantes passa, não partilhei casa com desconhecidos e consegui emprego na minha área de estudo. Tudo isto porque o meu parceiro veio à frente e organizou tudo; apenas tive de procurar o emprego. O meu conselho a futuros emigrantes é que venham com emprego e se possível residência já pré-organizados pois facilita e muito.

3 - Momento Dino Meira: "voltei, voltei, voltei de lá"

"Tuga": So far so good, como se diz por estes lados! Felizmente não posso dizer que me tenha arrependido! Fui muito bem recebida! Também o facto de ter emigrado para um país europeu deu-me algum conforto pois pensava: "Estou muito perto, posso sempre ir a casa quando quiser. Se algo não correr bem, posso também voltar facilmente " pois felizmente não emigrei apenas por necessidade. Sempre tentei ser positiva, sabia que tinha muito a ganhar com esta experiência, mas também passei por muitos momentos de questionar a decisão, principalmente no inicio quando ainda não se sabe muito bem o que está acontecer. A saudade é imensa, mas não estou arrependida. Só gostava de ter tomado a decisão uns anos atrás. 

4 - Momento Maria Papoila "Adeus aldeia que levo na ideia nunca mais cá voltar" 
 
"Tuga": Portugal é um país lindo, rico em cultura, paisagens, gastronomia, animação e com um clima invejável! Adoro o meu país e a minha cidade! Sempre que volto a casa, fico encantada com os cheiros, a temperatura do ar, a praia; quero aproveitar tudo ao máximo e viver intensamente cada momento ao lado da família e amigos. Quero conseguir, naquele período de tempo, fazer tudo, ver tudo, para regressar com o coração cheio.
Mas infelizmente não se consegue viver apenas disso.
Todos os dias me fazem acreditar que é certo tomar a opção de emigrar. Na minha opinião, a conjuntura atual em Portugal é, no mínimo, insultuosa tal como os atuais níveis de desemprego e pobreza o comprovam. Mesmo para os que têm a sorte de ter um emprego, estará sempre aquém do desejado e devido. Sim, porque mesmo com anos de "pestanas queimadas" e experiência comprovada, a mentalidade é: se estás empregado tens de ficar híper agradecido e humilde e sem te atreveres a desejar mais, pois " já muita sorte tens em ter emprego". Está à vista de todos que, para a maioria dos portugueses que desejam ter uma vida confortável, com um salário digno e justo, Portugal não pode ser, de todo, o país de eleição. Pelo menos por enquanto.
Tenho a sorte de me encontrar num país muito bonito, apesar de não ser perfeito, e sinto-me em casa. Dizer "Adeus" parece muito radical mas talvez quem sabe "Até um dia aldeia (quando evoluíres para cidade)".

 5 - Medalha de recomendação ou alfinete de vodoo? 
 
"Tuga": Em termos de riqueza cultural, as vantagens de emigrar são enormes. Recomendo a quem estiver indeciso neste passo. O convívio diário com a nova cultura, hábitos e pessoas diferentes, dá-nos a oportunidade de conhecer um mundo novo, abrir horizontes, e de nos conhecermos melhor a nós próprios também. Acho que só seria benéfico se todos passassem pela experiência, como é hábito para a maioria dos recém licenciados nos outros países europeus, que o fazem por períodos de pelo menos um ano (no mínimo). Cresce-se muito com o melhor e o pior desta experiência e aprende-se constantemente a todos os níveis e isso é gratificante. 
Dás e recebes nesta troca cultural e, a pouco e pouco, constróis o teu próprio lugar e deixas de te sentir emigrante; tornas-te residente e ganhas uma segunda casa. Haverá apenas uma única raíz mas o que pode impedir os ramos de seguirem direções diferentes? Apenas a saudade. Ai a saudade! Será sempre o alfinete de vodoo que te vai picar, por vezes bem forte. Mas aprende-se a conviver com ela. Felizmente pode ser encurtada um pouco mais, hoje em dia, com tanta tecnologia! Mas faz parte e estará sempre presente.

Em Maio de 1940, com o Reino Unido mergulhado nas agruras da guerra, Churchill, dirigindo-se aos Comuns, declarou: "Só tenho para oferecer sangue, trabalho árduo, lágrimas e suor."

Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/mundo/detalhe/sangue-suor-e-lagrimas.h

Comentários

  1. Adorei a entrevista!!!! Sim, senhora: uma profissional de mão cheia! ps: "mão cheia" não é relativo a culinária?...hum...substituo por "de se lhe tirar o chapéu"...que hoje foi mais de chuva! Adorei!!!

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