Conta-me tudo (não me escondas nada)

Mudar é bom, faz bem e recomenda-se. Dizem por aí.
O certo é que todos nós sentimos, a certa altura, a necessidade de alterar alguma coisa na nossa vida, na nossa forma de pensar, na nossa rotina, nos nossos hábitos. 
E há épocas do ano em que isso até é mais evidente. 
Para mim,por exemplo, é na passagem do ano.
Mas querer mudar e efetivamente mudar são duas coisas completamente diferentes.
É preciso força de vontade, determinação e muita coragem.
E é por isso que as minhas listas de hipotéticas mudanças têm ficado perdidas em alguma gaveta ou acabam no cesto do lixo no final de janeiro.
Reconhecendo o esforço que sustenta esta decisão, admiro quem realmente se compromete com a mudança e demonstra uma invejavel capacidade de adaptação. Especialmente se estivermos a falar de mudanças radicais.
São pessoas fortes que, num mundo onde a resistência à mudança é quase uma caraterística geral,  sobressaem como uma espécie de heróis.
Ora, com a curiosidade normal de quem tem dificuldade em mudar, a Maria Fraldiqueira que há em mim decidiu "cuscar" e saber como é que alguém (chamemos-lhe Mystique; aquela personagem mutante da Marvel que tem o dom da transmutação) consegue essa proeza, principalmente numa área tão problemática, e muitas vezes controversa, como é a alimentação. A questão é simples: como se transforma uma carnívora em vegetariana?

Eis o que se apurou.

Mystique
1 - Por moda ou convicção?

Mystique: Convicção. Sempre estive ligada a causas relacionadas com  animais e confesso que estava a sentir-me uma hipócrita. Fiz o seguinte exercício, o que distingue uma vaca de um cão? NADA. São  animais de igual forma. Esta foi a minha maior motivação. 
Muita gente não tem a consciência de que o aumento excessivo do consumo de carne está a matar o nosso planeta. Não só pelas quantidades de gás metano libertado mas também pelas enormes quantidades de água necessárias para manter as explorações e pela contaminação dos solos. 
Para terem uma noção, nos Estados Unidos a quantidade de dejetos produzidos pelos animais é 130 vezes superior à quantidade de dejetos produzidos pelos humanos e não estão sujeitos ao mesmo nível de tratamento (www.wspa-international.org). 
Se está na moda óptimo. Modas saudáveis como esta são sempre bem vindas.

2 - É uma tortura ou um estado Zen? 

Mystique: É um estado Zen, com toda a certeza. Só se torna tortura quando a malta que está à tua volta decide ser nutricionista. Toda a gente se preocupa com as proteínas que ingeres, vitaminas etc. etc. Não posso deixar de referir que descobri que muita gente é defensora das alfaces no momento que se apercebem que não como "cadáveres". Nesse preciso momento quem "vira bicho" sou eu (ahahhahaha)

3 - Momento: vou assaltar um talho!

Mystique: Para já, na minha curta experiência, ainda não tive esse momento.  A única coisa que sinto é repulsa quando passo num talho e vejo os animais nas estantes, sem cabeça, "a pedir ajuda". Infelizmente sou muito visual e imagino coisas horríveis. 
Nesta fase ainda como algum peixe mas também já me começam a passar pela cabeça coisas desagradáveis... no outro dia estava a comer salmão e comecei a imagina-lo a subir o rio, feliz e contente, quando de repente aparece alguém, de rede em pulso, e  apanha o pobre coitado... claro que já não consegui acabar a refeição. A minha cabeça prega-me estas partidas o que, assumo, me facilita o processo.

4 - Momento: vale a pena ser verde como um marciano!

Mystique: 100% verde como um marciano. Acho que estou a entrar num processo sem volta, para bem de todos os animais chamados de produção ("by the way", também me incomoda o nome que lhes dão numa tentativa de desumanização da coisa). 

5 - Medalha de Recomendação ou Alfinete de Vodoo?

Mystique: Medalha de Recomendação, como é óbvio, mas é precisar estar ciente que não é fácil. Fomos educados para comer carne e todos os derivados por isso, no meu caso, são 32 anos com esses hábitos alimentares.
Recomendo a pessoas como eu, que ainda estão numa fase de "quero mas nao sei se consigo", que tenham moderação ("baby steps"). Não importa o tempo que demora a fazer a abolição por completo, o importante é que o façam e no fim fiquem de coração cheio e com a sensação de dever cumprido.

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