Sabiam que...
há um restaurante com um conceito tão original que deixa o cliente decidir quanto quer pagar?
Pois é.
Fica em Chaves, dá pelo modesto nome de Flávia Pensão Hotelaria e é a prova de que podemos fazer uma excelente refeição (em quantidade mas, sobretudo, em qualidade) num ambiente informal, caseiro e familiar.
Não é à toa que o sitio enche por isso é aconselhável reservar mesa.
A Flávia é uma casa amarela, numa rua pedonal do centro da cidade, e na sua simplicidade de tradicional "tasca" portuguesa torna-se convidativa logo à chegada.
O pessoal faz-nos sentir bem vindos e tem a preocupação de explicar imediatamente como funciona o serviço.
E é assim: o cliente não se preocupa com nada (mesmo nada) e a comida vai aparecendo em cima da mesa, a uma velocidade estonteante de iguarias atrás de iguarias. Entradas quentes e frias servidas em frigideiras pretas, que também nos servem de prato.
Num instante estamos rodeados de camarões, mexilhões, tripas, favas com chouriço, feijão frade com atum, grão de bico, tomate com mozarela, ananás e presunto, tomatada de vitela....
E quando pensamos que vamos ficar por ali, eis que o chefe se aproxima para nos perguntar o que queremos comer!
Não há menu. Ele sugere e nós pedimos o que mais apetece.
No nosso caso, o que apeteceu materializou-se em carne de primeira qualidade servida com batatas a murro e salada. Que deliciosa violência!
Na Flávia é assim. As frigideiras devem voltar vazias para a cozinha e os clientes devem rebolar no final da refeição: de satisfação e felicidade.
Na despedida (para nós foi depois das Natas de Céu caseiras e do café) eis a surpresa final: não há conta.
E pronto: a "porca torce o rabo".
Se até aí o cliente não se preocupa com nada, agora fica com a decisão mais difícil: valorizar, de forma justa, a refeição e o serviço.
Digo-vos que não é fácil porque não estamos habituados a determinar a "dolorosa".
E nesta casa a confiança é tal que ninguém fica a ver o que se deixa. Não há sequer a tentação de ficar junto à mesa.
Podemos simplesmente levantar e ir embora. Isso se não tivéssemos vergonha na cara nem um pingo de decência, claro. Quem come na Flávia quer lá voltar porque sabe que em poucos sítios comerá tão bem e será tão bem atendido.
O final da refeição pode ser encarado como um desafio ao nosso discernimento. Num mundo onde toda a gente é mais rápida a julgar e a criticar do que a pensar, este pode ser um bom exercício e até ajudar a digestão.
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